Day 197: no handrail

by Cláudio Vilarinho

© The staircase in the Ministry of Foreign Affairs in Brasilia, by Simon Norfolk

 

Uma mensagem com arquitetura:

Há filmes ou partes de filmes que nos ficam (para sempre) na memória. Uma dessas partes, passou há uns anos atrás, num daqueles filmes tipo Denzel Washington.

A cena passava-se num tribunal, o acusado estava prestes a ser declarado inocente. No último dia de julgamento, as palavras do advogado de acusação perante o jurado (americano) consistiam mais ou menos no seguinte: imaginem uma menina a passear num lindo parque, imaginem-a a passear na sua bicicleta cor de rosa… estava um lindo dia de sol; de repente alguém a prendeu de movimentos e de sons… depois, ao ar livre é despida… como veio ao mundo… frágil… encostada à sua inocência alguém a usa, e (a) abusa… naquele silêncio apenas se ouvem alguns gemidos, inconsciente não eram os dela com certeza; por mero acaso é descoberta ainda com os sons respiratórios mínimos, transportado para o hospital aquele corpo negro, entra em coma… fica em coma… permanece em coma…

Agora uma outra versão, a arquitetónica, usando como referência a cena anterior: imaginem uma menina a descer uma linda (mesmo linda) escada, imaginem-a a descer os degraus brancos (e muito bem desenhados)… estava um lindo dia de sol; de repente alguém a libertou de movimentos… depois, sem guarda que a segure, já na queda… como veio ao mundo… frágil… encostada à sua inocência alguém a socorre e socorre… naquele silêncio apenas se ouvem alguns gemidos, os dela; “descoberta” de sons respiratórios duvidosos, transportado para o hospital aquele corpo abalado, depois entra em convulsão… fica em coma induzido… permanece nos cuidados intensivos…

Ainda em relação ao filme: o advogado (brilhante) termina assim: agora imaginem que essa menina é a vossa filha.

Em ambas as histórias o final é feliz.

A message with architecture:

There are movies or parts of movies that are (forever) in our memory. One of those parts, passed by a few years ago in one of those Denzel Washington like movies.

The scene was on a courtroom, the accused was about to be declared innocent. On the last day of trial, the prosecutor’s words before the (american) jury consisted of more of less on the following: imagine a girl walking in a beautiful park, imagine her riding her pink bicycle… it was a lovely sunny day; suddenly someone stopped her from moving or making any sound…after, she is naked outdoors… as she came to the world… fragile… against her innocence someone uses and abuses of her… in that silence one can only hear a few moans, unconscious those were not of hers; by  a mere chance she is discovered with minimal respiratory sounds, transported to the hospital that dark body, falls into a coma… stays in a coma… remains in a coma…

Now in another version, the architectural one, with reference to the previous scene: imagine a girl descending a beautiful (really beautiful) stair, imagine her doing down the white steps (and very well designed)… it was a lovely sunny day; suddenly someone let her loose… then, without a handrail that could hold her, already falling… as she came to the world… fragile… against her innocence someone helps her and helps… in that silence one could only hear a few moans, from her; the “discovery” of dubious respiratory sounds, transported to the hospital that shaken body, goes into convulsions… she stays in an induced coma… she remains in intensive care…

Still on the film: the (brilliant) lawyer ends: now imagine that this girl is your daughter.

In both stories the ending is happy.